domingo, maio 15

Aprender as regras do jogo

Esperei tudo. Não esperei nada. Não planeei. Não antecipei.
Foi o problema.
Quiseste, fizeste-me querer. Querias mais. Tiveste mais.
Passei de desejo a realidade estável. Garantida. Nunca se deve tomar nada como garantido, a vida é demasiado imprevisível.
Mantiveste-te lá até seres apenas corpo presente. A alma fugiu algures.


Não substimes a minha perspicácia, essa nunca se escondeu. O meu discernimento, talvez.
Prolongaste a estadia, entenda-se a razão. Não a encontro, provavelmente está demasiado sub-entendida para minha compreensão.
Falaste até mais dizer não, sugaste a razão que residia em mim. Quando chegou a parte desconfortável, substituíste as palavras por silêncio. Por atitudes frias, longínquas.
Bem jogado. Demasiado bem jogado, até. Adivinhei foi erradamente o jogo.


Inícios conduzem a deduções. Se a minha estava errada, começaste o jogo com o pé errado.
Mais promessas não são necessárias quando está implícita a promessa de existir o dia seguinte. Não, não prometeste nada. Esqueceste-te foi de que, assim, acabaste por me prometer tudo.
A indução em erro disfarçou a evidência da falsa promessa. A minha razão já não estava lá para a detectar.


O que é que fica? Vazio.
Não é o doce amargo, não é a triste realidade. Esses desaparecem. Não é necessário substimar o tempo.
Fica a confusão. Ainda não distingo o que foi verdade e o que foi mentira. E como memórias pormonorizadas se esbatem com o tempo, nunca hei-de distinguir.
Fica o desconforto. Ainda temos os mundos muito próximos.
Fica outra lição aprendida, que há-de tentar evitar outra pedra no sapato.


Passaste do desconhecido para o detalhe, e do detalhe para o estranho. Demasiado rápido.
Cartas na mesa, o sentimento evoluiu. Se o meu evoluiu e foi arrastado, o teu não tinha portas ou janelas para fugir. Aparentemente, não sabes encerrar o passado. Insistes em vivê-lo e em transformá-lo como parte integrante do teu presente. Atrapalhas o futuro, constantemente.


A sensibilidade do começo passou para incapacidade do fim. Incapacidade em lidar, em terminar. Em assumir o erro, em assumir a minha realidade humana, latente de uma explicação.


É indiferente.
A ferida já sarou. Não tenho necessidade de lhe tirar a crosta para reiniciar o processo, do zero. Ainda era pequena, não teve tempo para correr o risco de ser maior. Ainda bem. Poupaste-me o horror de conhecer o desagradável tarde demais.


Corpo de adulto, cabeça de criança. Não se insiste no que não se está preparado para ter. Isto, assumindo maturidade, claro.


Funcionas à velocidade-luz de um interruptor. Até quando arrumas as memórias num sítio fechado dentro de ti, fingindo que nunca se passou nada. E o preenchimento que tenho à minha volta não me permite ser assim. Demasiada frieza, demasiado egoísmo, para quem na ronda das apresentações deu azo à sua atenciosidade e partilhou muito. Demasiado, para o fim que escolheste, cronometrado apenas por ti.
És a perfeita personificação paradoxal hipérbolizada.


Fui apenas o teu parágrafo que ficou a meio, sem ponto final, da história que nem precisava de ter existido. Forçaste a parte do destino, agarraste-te à minha rotina. Quiseste demais para não quereres nada a seguir.
Segui a tua deixa. Mudaste foi as linhas orientadoras do discurso muito rápido.


Preto no branco, não fui merecedora da tua parte lógica, encarregaste-te da expulsão sozinho. Sem ruído. Palavras magoam. O silêncio, ainda mais.


Já é indiferente, porque a razão finalmente apareceu e decidiu que, numa situação partilhada, não se confere mais importância do que aquela que o outro confere.
A rigidez do estatuto de indiferença habilita ao esquecimento forçado. Até que já não é preciso fazer mais força.

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