quinta-feira, março 31

Good night

Circle of life

·         Amamos enquanto podemos. Esquecemos quando é preciso. Depois de muito viver, aprendemos que só vale a pena lutar por aquilo que vale realmente a pena possuir.
Se

Uma pequena palavra, composta por uma consoante e uma vogal. Uma sílaba, de uma sonoridade apenas. Se. Pronome reflexivo, pronome indefinido, conjunção subordinada integrante, condicional, causal, concessiva. Introdução a um sujeito indeterminado, introdução a todas as formulações de hipóteses, introdução a tudo o que não é, mas que poderia ser. Se…
                Sem esta palavra, a condição não seria apresentada, e um limite não seria estabelecido às acções praticadas. Insiste na ideia de escolha, na ideia de dúvida, na ideia do acontecimento irresolúvel, da impotência experienciada diariamente. Personifica a fragilidade das escolhas e dos caminhos, dos arrependimentos, das possibilidades, promessas e alternativas. As questões existenciais infindáveis.
                Um termo com a capacidade de acorrentar o passado, assombrando o presente, impossibilitando um futuro. Termo com a habilidade de criar novos caminhos, de permitir mudanças, de não aceitar o pré-estabelecido.
                Acompanhada pela conjunção e, formam uma dupla excessivamente usada na língua portuguesa, banalizando esta pequena enorme palavra e tudo o que ela acarreta.
                Mas cansei-me de escrever sobre isto. Acabei de me lembrar que também eu contribuo para a banalização do se. Eu própria me refugio em possibilidades pacatas e distantes, insistindo na sua utilização como se (lá está) não houvesse amanhã. E porquê? Porque é mais fácil. É mais fácil usar e abusar do se para demonstrar, participar, divagar. Dizer que, se fosse eu, seria isto, aquilo e o outro. Se eu fizesse, se eu pudesse, se eu construísse. Se eu estudasse, se fosse eu, se isto estivesse ali e não aqui. Se eu tivesse vontade, se eu me empenhasse. Se soubesse o que é que vou pensar mais, escrever mais. Se alguém fizesse o mundo mudar para melhor. Se, se, se.
Interessante, acabei de enumerar uns quantos ses que são banalizados 7 dias por semana, 24 sobre 24 horas.
                E, já agora, por que não questionar-me? Perder horas a tentar perceber o porquê das coisas, a própria existência da existência, as possibilidades incansáveis a que estamos abertos. Perceber a nossa finitude, questionar o porquê de andarmos por aí, aparentemente sem grande rumo marcado. Reforçar a minha tendência contraditória, contrariando o que já parece aceite. Acho que é a palavra perfeita para mim.               
E se o céu fosse verde em vez de azul, e a relva que teimamos em pisar fosse azul em vez de verde? E se pudéssemos voar como os pássaros e os pássaros apenas andassem como nós? E se os extraterrestres realmente existissem e pudéssemos todos conviver como somos forçados a conviver com parentes em jantares familiares pouco agradáveis? Parentes que, quando nos põem a vista em cima, teimam em fazer observações muito importantes e nada inúteis sobre a nossa figura?
                E se Deus realmente existir, ou outra qualquer forma ou designação que alguém se lembrou alguma vez de dar? Aí os religiosos fariam boas figuras em vez de, constantemente, serem alvo de chacota ou de desprezo por terem algo em que acreditar para se conseguirem levantar da cama pela manhã, ao invés de que os descrentes arrepender-se-iam amargamente. E o mundo em que vivemos, que mesmo funcionando mal vai subsistindo, seria transformado num mundo caótico, com mais arrependimentos de última hora e mais ajustamentos a uma realidade que por si só já não era muito agradável ou satisfatória para as nossas mentes semi-brilhantes ou semi-ignorantes.
                Então e se pudéssemos voltar atrás no tempo? Se eu pudesse voltar a ser criança novamente, escolheria ter cortado uma madeixa de cabelo a um colega que me deu um pontapé sem a educadora ver? Se, sabendo antecedentemente que a minha avó iria morrer à minha frente, escolheria ter ficado? Se não tivesse deixado amigos para trás que me impediam de viver o que tinha de viver, estaria eu onde estou hoje? Se tivesse virado à esquerda ontem à noite e não à direita, confrontar-me-ia com alguma espécie de perigo? Se não tivesse dado todos os conselhos que já dei, teriam as pessoas que ajudei cometido ainda mais asneiras, ou cometeriam-nas à mesma?
                Acabei de me aperceber que é impossível não julgar, tanto como é impossível não questionar. Se a palavra se não fizesse parte do nosso vocabulário, viveríamos ainda mais incompletos do que já vivemos, fechados num paradigma qualquer e aceitando tudo o que já aconteceu sem arcar com responsabilidades ou, em último caso, termos realmente uma boa desculpa para não pensarmos demasiado e aceitarmos tudo o que é ou já foi, em jeito de modo conformista a que tão bem nos habituámos.
                E que tal uma última formulação pertinente do se? Sim. Uma a que muitos gostam de fugir para serem auto-impossibilitados de analisar a sua própria vida, uma que é mais fácil de subestimar.
E se morrêssemos todos amanhã? Continuávamos a fugir da nossa vida ou decidíamos fazer algo que realmente importasse e fizesse a diferença?

Texto produzido para a discipla de Técnica e Expressão do Português

domingo, março 27

"Retrospectiva de um amor profundo"

Em retrospectiva, és tudo o que sempre achei que nunca fosses, e nada do que achava que poderias ser.

E continuas aqui, bem presente. E o que é que eu faço agora? Já tentei de tudo. Já fiz orações aos céus, já pedi ao mar que levasse a tua memória com a onda que ia embora, já enterrei as tuas palavras, os teus actos, a tua presença no fundo, bem fundo de mim. Já deixei de dizer o teu nome em voz alta, e já deixei de esperar que do teu silêncio viessem respostas para as minhas dúvidas. E agora? Quanto tempo é que é preciso para enterrar o passado? Quanto tempo é que temos de sofrer, quanto tempo é que temos de esperar para alguém desaparecer, como se nunca tivesse existido?
É que os meus dias continuam iguais. Eu continuo a mesma, mesmo com todo o tempo que já passou. Com tudo e principalmente com nada, eu continuo com a mesma rotina, continuo com as mesmas pessoas, continuo nos mesmos sítios, continuo a percorrer os mesmos caminhos, continuo a recordar as mesmas datas, as mesmas perguntas sem resposta. Continuo a perguntar-me como é que foste capaz de me segurar a mão, como é que foi possível lutares até meio, para quando eu finalmente chegava ao meu meio do nosso caminho, à minha metade, deixares-me lá sozinha, já presa a ti.
Continuo a perguntar-me porque é que toda a gente tem direito a uma segunda oportunidade, porque é que toda a gente avança menos eu, e principalmente porque é que nunca percebeste a sorte que tinhas em poderes ter tido alguém como eu. Em me poderes ter tido a mim.

E sabes do que é que me lembrei?
De que é impossível entregares-te a alguém se não gostas de ti o suficiente para saber o que está mal, para saber quando é que alguém gosta mesmo de ti, e para saber se tudo o que aconteceu foi verdadeiro, foi sentido. Da minha parte foi, e provavelmente é por isso que continuo presa a ti. Porque pensei sempre que, como era recíproco, era uma história por acabar, incompleta. E esqueci-me que, numa história, são sempre precisos dois protagonistas para acabá-la com um final feliz, nem que o ‘para sempre’ seja mentira.
São precisos dois, e fiquei tão presa à possibilidade, que não vi o que o teu silêncio queria realmente dizer.
E agora, passados meses, sabes o que acho?
Que nunca te deixaste entregar a alguém, muito menos a alguém que sabias que te podia fazer feliz, a alguém que estivesse sempre lá, porque te assustavas com algo tão simples como apoio, como dedicação. E fazia-lo, porque simplesmente o confundias com prisão, com esse ‘para sempre’. Quando eu nunca te pedi nada, e quando nunca te prometi nada.
E foste-te afastando. Eu vi tudo acontecer em câmara lenta, mas na altura não queria encarar as consequências, para não ter de sofrer mais uma vez, preferindo então fingir que não me tinha magoado, que eram coisas da vida, e que simplesmente se tinha de andar para a frente. O problema, é que fiz tudo menos andar para a frente, e esta sensação de que não se sai do mesmo lugar quando tudo parece avançar, é a pior sensação do mundo.

Se alguém teve culpa?
Ninguém teve, e tivemos os dois. Porque não se pode exigir a alguém que encare as responsabilidades de algo que não queria fazer; porque não devias ter dado a entender mais do que te era possível oferecer, por nunca teres dito o que querias ou não desde o inicio e sobretudo por te teres ido embora sem qualquer aviso; e porque eu nunca deveria ter esperado absolutamente nada de ti.

Uma coisa que aprendi, não se foge ao passado, porque ele arranja sempre maneira de voltar. Então, o que resta é tentar esquecer da melhor maneira que formos encontrando, até aprendermos a diferença entre fugir e libertar.

Até lá, o segredo é saber andar direita e de cabeça erguida mesmo que por dentro só se apeteça esconder. É não esperar das estrelas e do oceano mais do que a sua beleza e sobretudo não esperar das pessoas mais do que elas estão dispostas a oferecer.

domingo, março 20

Ai começos, ai fins. Vocês estão a dar cabo de mim

Adorava conseguir escrever hoje um enorme testamento cheio de apanhados intelectuais e frases que depois de lidas iludem-me para o facto de achar que sou minimamente inteligente, e de mostrar o quão consciente e actualizada e simpatizante que sou em relação ao que se está a passar por este mundo fora, ou até aqui já na minha rua (e eu a achar que o facto do mundo acabar agora em Maio era rídiculo- se bem que por estes lados já tenha acabado há muito tempo). Mas não vai dar.
Não vai dar, mas o que vai dar é aqui uma linhagem de pensamento que acabei de ter, bastante interessante. Ou nada interessante, fica aí no meio, é como quiserem.
Mas reparem:

Adoro começos, odeio fins. Mas, ao fim e ao cabo, adoro os fins que podem levar aos começos. E acabo por odiar os começos que levam aos fins. Mas, sem os fins que tanto doem, seria impossível empregarmos clichés tipo "life goes on" ou "quando se fecha uma porta, abre-se uma janela", porque se, lá está, não existissem, não haveria começos. Andávamos por aí feitos estúpidos sem saber o que fazer a seguir, ou caídos no chão porque não tinhamos nada de novo que nos fizesse querer levantar.

Por isso, obrigada começo por levares a um fim, e obrigada fim por levares a um começo. Este, eu sei que é bom e já está a dar cabo de mim.

quinta-feira, março 17

"O que sempre soube das mulheres, mas tive à mesma de perguntar", por Rui Zink in O Metro
(meus.teus) Acasos

São basicamente o que fazem da nossa vida, a nossa vida.
Ansiamos por eles, destruímos com eles, evoluímos a partir deles.
Sendo este um Blog para o dia-a-dia, que retrate cada lugar meu, cada memória minha gravada, não me lembrei de nome melhor.
Acasos fazem de nós quem nós realmente somos. Nem que não seja pelo livre-passe que lhes damos, ou não, para contribuirem para o rumo futuro dos nossos caminhos.

Destinos, planos já traçados, rumos pré-escolhidos?
Não faço ideia se existem ou não.
Mas que tudo é um acaso, é.